FAFÁ DE BELÉM
Na
Academia do Barro Branco, eu fazia parte da Terceira Companhia. Certa feita, um
pouco antes das 22:00h, caminhando em direção ao meu alojamento, fui abordado
por um aluno do 2º Ano do Curso de Formação de Oficiais.
- Ô,
bicho, como é seu nome?
- Meu
nome é Osmar! – informei meu nome de guerra.
- Cumequié! – assustou-se o aluno mais
antigo.
- Osmar!
– com sotaque paraense, semelhante ao carioca e ao santista.
- Tá
louco, bicho. Você é de onde?
- Sou de
Belém!
- Belém
do Pará?
- Sim,
senhor!
- Ah, é?
Então, venha aqui no alojamento do Segundo Ano!
Ele me
conduziu até o alojamento, onde os alunos estavam prontos para dormir, haja
vista que o toque de silêncio já ia ser efetuado pelo corneteiro. Com o toque,
todas as luzes dos alojamentos têm que ser apagadas. Mas, o cadete não perdeu o
ímpeto de tirar uma brincadeira.
-
Atenção, alojamento! – bradou para todos voltarem a atenção para a porta de
entrada, onde estávamos. E continuou:
- O
bicho aqui é do Pará e ele disse que o sonho dele é cantar uma música da Fafá
de Belém para os alunos do 2º Ano dormirem!
- Canta
aí, vai! – apressou-me outro cadete.
E eu não
contei conversa, mandei ver:
“Foi assim!
Como um resto de sol no mar...”
Rapaz,
os caras arremessaram na minha direção travesseiros, sandálias e tudo o que
tinham nas mãos.
- Sai
daqui bicho desafinado! – gritou um.
- Você
tirou meu sono! – disse outro.
E eu saí
dando gargalhadas. Foi divertido. Em outro emprego não me divertiria tanto.
O cadete
que havia me levado até o alojamento me cumprimentou, sob risos:
- Valeu,
cara. É isso aí. Você entrou no espírito da brincadeira. Não esquenta, não,
pois é só o que os caras querem para pegar no pé dos novatos. Se você faz o
contrário do que eles dizem, os caras vão te alugar até o fim do ano!
-
Permissão para me retirar! – eu disse.
- Vai
dormir, bicho! – ele concluiu.
==========================================Extraído do livro A CASERNA FORA DO SÉRIO: O LADO CÔMICO DA VIDA POLICIAL.
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